A inauguração oficial
do rádio no Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1922. No ano em que se comemorou
o I Centenário da Independência do Brasil (1922), ocorreu no Rio de Janeiro,
uma grande feira internacional, a Exposição do Centenário da Independência, na
Esplanada do Castelo, que recebeu visitas de empresários americanos trazendo a
tecnologia de radiodifusão para demonstrar na feira, que nesta época era o
assunto principal nos Estados Unidos.
Para testar o novo meio
de comunicação, os americanos da Westinghouse Electric instalaram uma estação
de 500 W e uma antena no pico do morro do Corcovado (onde atualmente é o Cristo
Redentor). O público ouviu o pronunciamento do Presidente da República,
Epitácio Pessoa e a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, transmitida diretamente
do Teatro Municipal, isso tudo além de conferências e diversas atrações. Muitas
pessoas ficaram impressionadas, pensando que se tratava de algo sobrenatural. A
primeira transmissão radiofônica do discurso do presidente Epitácio Pessoa, foi
captada em Niterói, Petrópolis, na serra fluminense e em São Paulo, onde foram
instalados aparelhos receptores. A reação visionária de Roquette-Pinto a essa
tecnologia foi: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo".
No mesmo ano, nos Estados Unidos, surgiu a primeira emissora comercial, a WEAF,
de Nova Iorque, criada pela companhia telefônica American Telephone and
Telegraph (atual AT&T). Depois da primeira transmissão no Brasil em 1922,
Roquette Pinto tentou sem sucesso convencer o Governo Federal a comprar os
equipamentos apresentados na Feira Internacional. Roquette Pinto (1884/1954)
foi um médico legista, professor, antropólogo, etnólogo e ensaísta brasileiro.
Para o bem da comunicação do Brasil, Roquette-Pinto não desistiu, e conseguiu
convencer a Academia Brasileira de Ciências a comprar os equipamentos. Foi
então criada a primeira rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro -
atual Rádio MEC, fundada em 1922, e dirigida por Roquette-Pinto, com um
possante transmissor Marconi com dois mil wats de potência - o melhor da
América do Sul - e a criação de uma escola de radiotelegrafia. Menos de um ano
mais tarde, em 20 de Abril de 1923, foi inaugurada a primeira rádio brasileira,
a "Rádio Sociedade do Rio de Janeiro", fundada por Roquete Pinto e
Henry Morize. Henri Charles Morize ou Henrique Morize (1860/1930) foi um
engenheiro industrial, geógrafo e engenheiro civil francês, naturalizado
brasileiro; Morize foi também o primeiro presidente da Academia Brasileira de
Ciências. Voltada para a elite do país, a programação da rádio incluía ópera,
recitais de poesia, concertos e palestras culturais e tinha uma finalidade
cultural e educativa. Como os anúncios pagos eram proibidos, a rádio era
mantida por doações de ouvintes.
Em 1926, foi
inaugurada a Rádio Mairynk Veiga, seguida da Rádio Educadora, além de outras da
Bahia, Pará e Pernambuco. A tecnologia era ainda muito incipiente, pois os
ouvintes utilizavam-se dos rádios de galena montados em casa, quase sempre por
eles mesmos, usando normalmente caixas de charutos. Isso se tornava possível
pelo fato dos aparelhos serem compostos por apenas cinco peças, segundo
ensinava José Ramos Tinhorão em seu livro editado em 1990. Como visto, no
Brasil, as primeiras transmissões AM surgiram com a emissora de Roquette-Pinto,
que em 1923 fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que em 1936 iria
transformar-se em Rádio Ministério da Educação, que propagaria o ensino à
distância.
As freqüências AM
foram fundamentais na vida do brasileiro em meados do século XX. As rádios de
longo alcance, como a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Super Rádio Tupi e a
Rádio Record, que atingiam quase 100% do território nacional ajudaram a
propagar os times cariocas e paulistas de futebol por todo o Brasil. O
crescimento do rádio na sua primeira década de existência no Brasil se deu de
forma lenta, pois como dissemos a legislação brasileira não permitia a
veiculação de textos comerciais o que dificultava a sobrevivência financeira
das Rádio-Sociedades, ou seja, sobreviviam de doações de amigos e sócios. Bem
verdade que tal fato não impedia que as emissoras mesmo não produzindo
intervalos comerciais, tivessem seus programas patrocinados por anunciantes
específicos cujos produtos eram recomendados ao público ao longo do programa.
Nos primeiros anos o alcance do rádio era pequeno em termos de público, pois o
preço dos aparelhos receptores era alto, tornando-os inacessíveis a grande
parte da população. Nas modalidades rádio-sociedade e rádio-clube2, que, depois
da criação da primeira estação de rádio, surgiram em todo o Brasil, o princípio
era o mesmo: um grupo de pessoas pagava uma mensalidade para a manutenção do
equipamento e o salário dos funcionários, e alguns ainda cediam discos para
serem ouvidos por todos. Foi essa característica, adotada por Roquette-Pinto,
que tornou possível, num primeiro momento, uma incipiente radiodifusão, que só
se tornou um meio de comunicação de massa na década de 1930, com a introdução
do rádio comercial e a redução do preço dos receptores. A percepção da
potencialidade do rádio não era, como se extrai das palavras de Albert
Einstein, privilégio apenas das pessoas que lidavam com o novo meio: em 1925,
em visita ao Brasil, ele recomendava ―cuidado na utilização do rádio, pois, se
mal usado, as conseqüências poderão ser lamentáveis.
A partir de 1927, começa a era
eletrônica do rádio. O som dos discos não precisa mais ser captado pelo
microfone, pois o toca-disco tinha sido conectado a uma mesa de controle de
áudio e podia ter seu volume controlado eletronicamente. Com estúdios mais
ágeis, as produções dos programas radiofônicos ficam mais aprimoradas.
Com a conformação
do rádio espetáculo no início dos anos 1930 a partir do trabalho de César
Ladeira, primeiro na Record, de São Paulo, e depois na Mayrink Veiga, no Rio de
Janeiro, criam-se as possibilidades concretas para que o veículo atenda às
necessidades de divulgação de produtos e serviços de terceiros. A ele,
Ortriwano (1985, p. 17) atribui a criação do elenco exclusivo e remunerado,
base da profissionalização do meio que irá permitir o surgimento dos programas
de auditório, humorísticos e novelas, principais conteúdos para o mercado
anunciante da época. Os indícios existentes levam a crer, (Tota 1990, p.71),
que a compra da Record, em 1931, por um grupo integrado por Paulo Machado de
Carvalho, permite à estação ―estruturar-se como uma moderna empresa de
comunicação, acompanhando o processo geral de transformações que caracterizou o
Brasil dos primeiros anos da década de 1930.
O SURGIMENTO DA DUPLA SULINO E MARRUEIRO
Nos anos 1940 e 1950, o rádio era o meio de comunicação
de massa mais importante do Brasil e a maior parte da música veiculada era
tocada ao vivo pelos conjuntos regionais, bandas, cantores, cantoras e
orquestras. E os programas denominados sertanejos, nas rádios do sul e sudeste
do País, projetavam a música caipira. Em um desses programas, “Serra da
Mantiqueira”, de Sílvio Frota, na Rádio Bandeirante, em São Paulo, surgiria a
dupla Sulino (Francisco Gottardi, 1924-2005) e Marrueiro (João Rosante, 1916-1978),
tradicionais cultivadores da moda de viola. Antes, em 1942, Francisco adotara o
nome artístico de Limeira, para formar a dupla Limeira e Limeirinha (Amélio
Posso).
A dupla acabou em
1945, quando, também, João Rosante deixa o Trio Saudade (havia ainda Nenete e
Nininho) e despreza o apelido Ninão. Passa a ser Marrueiro, enquanto Francisco
substitui Limeira por Sulino. Juntos, formam o Trio Campeiro, com participação
do sanfoneiro Castelinho, que tocou no grupo até 1949; ao sair, deixou formada
a dupla Sulino e Marrueiro - que se firmou como intérprete de modas de viola.
Impossível separar esta dupla da moda de viola; são dezenas de canções
clássicas compostas por Sulino ou divididas com outros letristas e que os dois
interpretaram ao longo da carreira. O LP “Sua Majestade a Moda de Viola” é um
dos exemplos.
A letra da moda de
viola conta fatos históricos ou relacionados à vida das pessoas onde é
composta, dando vida aos episódios na voz do violeiro. E Sulino e Marrueiro
fazem isso em suas modas, a exemplo dos clássicos “A boiada do Araguaia”,
“Herói sem medalha”, “João boiadeiro” (Sulino e Sebastião Víctor ), “Laço de
couro” (Zé Paioça), “Nelore valente” (Antônio Carlos da Silva), “O erro da
professora” (Teddy Vieira), “O milagre do retrato” (Paulo Calandro), “O peão e
o ricaço” (Moacyr dos Santos), “Cachorro Corumbá” e outros
Não se deve
confundir a moda de viola “João boiadeiro” gravada por Sulino e Marrueiro, em
1964, com o rasqueado de Moreninho, que fala de João boiadeiro, primeiro
brasileiro a receber um coração transplantado, em 1968. Muito menos com uma
outra moda de viola, gravada por Tonico e Tinoco em 1961, e com o mesmo título
e de autoria de Pedro Capeche e Chiquinho. A moda de viola,
diz o Dicionário Cravo Albin da MPB, é
uma narração em ritmo recitativo, onde o cantador conta uma história. A melodia
é solta, como se fosse uma poesia falada com acompanhamento musical.
Normalmente são cantadas em duas vozes, com intervalo musical de terça acompanhamento de viola. A métrica geralmente
é de sete sílabas (redondilha maior), às vezes aparece de cinco sílabas
(redondilha menor).
Cultivadores deste ritmo, Sulino e Marrueiro gravaram o primeiro disco na Copacabana, em 1949, com o cururu “Morena de olhos pretos”, de Sulino e Teddy Vieira, e a moda de viola “Cachorro Corumbá”, de Teddy Vieira e Ado Benatti. Com o sucesso, em1952 estrearam no programa “Brasil Caboclo”, da Rádio Bandeirante, apresentado pelo Capitão Barduíno. De 1954 a 1957 gravaram na Victor sucesso como “Abismo cruel” (Sulino e Zé Fortuna), “Mandamentos do chofer” (Sulino e Ado Benatti) e “Florisbela” (Sulino e Zé do Rancho).
Em 1958 lançou
com sucesso o primeiro disco sertanejo da Chantecler, “A volta do boiadeiro”
(Sulino e Teddy Vieira) e “Juramento quebrado” (Sulino e Carreirinho), em 78
RPM. Lançou ainda pela mesma gravadora “Peão da cidade” e “O peão e o ricaço”
(ambas de Sulino e Moacir dos Santos). Permaneceram na Chantecler de 1958 a 1968.
Em 1969, pela Cartaz, a dupla lançou o LP “Laço de couro”, título de uma das
faixas da gravação.
Em 1970 lançaram
pela Califórnia, entre outras composições, “Aniversário da mamãe” (Sulino e
Nelson Gomes), “Tenho fome e tenho sede” (Sulino), “Caboclo do pé quente” e
“Empreitada perigosa” (ambas de Sulino e Moacir dos Santos). Do LP da Beverly,
de 1971, destacam-se “Duas rosas” (Sulino e Moacirdos Santos), “Meu querido
sertão”, “O jogador de baralho” e “Viola amiga” (todas com Quintino Eliseu).
Gravaram outros LPs pela Tropicana (1973), Japoti (1975) e Continental (1994).
Além de cantor e
compositor, Sulino escreveu peças teatrais, apresentadas ainda hoje em circos
de todo o Brasil, entre elas a “Volta do boiadeiro”, “Quatro caminhos”, “Quatro
pistoleiros a caminho do inferno”, “Vingança se escreve com sangue” e “Cada
bala uma sepultura”. Depois da morte de Marrueiro, em 1978, o parceiro Sulino
formou nova dupla com Amarito (Roberto Amâncio) e gravaram entre 1978 e 1982.
Sulino morreu em 2005.
12 Sucessos para Download Grátis
DOWNLOAD: