Música sertaneja é toda música que
tem sua origem no sertão (interior) brasileiro. Essa é a definição clássica.
Hoje, infelizmente, o que vemos é uma grande distorção desse conceito. Segundo
Zuza Homem de Mello podemos afirmar que sertanejo é gênero e caipira é espécie,
ou seja, toda música caipira é sertaneja, a recíproca não é verdadeira.
A música caipira viveu seu auge entre as décadas de 1920 e 1970, época em que o Brasil era um país tipicamente agrícola. A partir, principalmente, da década de 80, o gênero sertanejo começou a se destacar no Brasil e passou a ser explorado comercialmente de maneira mais agressiva. Um marco importante foi o lançamento da música Fio de Cabelo (1982) da dupla Chitãozinho e Xororó, que vendeu mais de 1 milhão e meio de discos. Recorde absoluto de vendas até aquele momento para o mercado sertanejo.
Com o destaque da grande mídia veio também a influência da cultura Norte Americana. A contaminação começou com a inserção de instrumentos eletrônicos como guitarra, baixo e bateria, o que desconfigurou totalmente a música caipira praticada até a década de 70 onde a voz da dupla se apoiava em um violão e uma viola, as vezes com a companhia da sanfona.
A influência do caubói americano foi tão forte que as festas do peão se transformaram em verdadeiros mega eventos, rompendo totalmente com as raízes e costumes caipiras. As roupas, botas, chapéus, cintos com fivelas enormes, tudo isso foi “importado” e resultou no que conhecemos hoje por “jovens sertanejos” ou “sertanejo universitário”.
Vamos tomar como exemplo a festa do peão de Barretos que começou em 1956 e foi o primeiro evento do gênero realizado na America Latina. No início as apresentações de catira, violeiros, desfiles de carros de boi, conjuntos folclóricos e campeonato de doma de cavalos eram as atrações da festa. Muito diferente do que vemos hoje, com as provas de rodeio seguindo o modelo americano e as apresentações de grandes shows, que na maioria das vezes não tem relação alguma com o mundo caipira.
Outra
influência que a música caipira sofreu veio do México. Duplas como Pedro Bento
e Zé da Estrada, Milionário e José Rico, Léo Canhoto e Robertinho são exemplos
que adotaram o estilo mexicano. Utilizavam sombreiros e roupas típicas, até os
gritinhos, próprio da cultura mexicana, foram incorporados a canção caipira.
Não bastasse a contaminação estrangeira, outra grande diferença entre a música sertaneja atual e a música caipira de raiz está nas próprias composições. A música sertaneja de hoje possui linguajar vulgar, pornografia e qualidade questionável. Muitos a classificam como estilo “mela cueca”.
Pena Branca
define com simplicidade e sabedoria a verdadeira essência da música caipira ao
afirmar que: “se houver vulgaridade e grossura, não é música caipira. Isso não
é coisa da gente”. Romildo Sant’Anna contribui com a reflexão de Pena Branca ao
dizer que “na música caipira os temas amorosos falam do amor puro, dos sonhos,
erotismo e pensamentos impuros são um campo proibido dentro dos padrões
conservadores da identidade caipira”. Definições mais do que perfeitas e
conclusivas!
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