O som dos novos sertanejos, especialmente o sertanejo universitário, é
um modismo ou veio pra ficar? O que de verdade mudou para que o sertanejo,
independente de suas vertentes, se tornasse o boom da música popular
brasileira?
E qual foi o grande motivo para os jovens de todos o Brasil aderir
maciçamente o som dos astros sertanejos?
O fantástico universo da música sertaneja não é fantástico por acaso. Novas formas de
cantar, de compor, de produção e de arranjos foram incorporadas e o resultado
está ai. Grandes nomes sertanejos incorporaram aos arranjos de suas músicas
muita percussão, guitarras distorcidas, um meio estilo do axé baiano, o suingue
do forró do nordeste. A versatilidade da música sertaneja não tem
limites.
O preconceito de antes deu vez para os jovens papo-cabeça invadirem este
universo. O sertanejo não mudou, ele tão somente cresceu, ele tão somente
evolui. Desde a forma de se vestir, de produzir espetáculos com muita
pirotécnica, muitos efeitos especiais, ao grande estilo dos maiores eventos da
música internacional. As inúmeras apresentações exclusivas em rodeios deram vez
aos álbuns acústicos, antes exclusividade da MPB e do pop rock tupiniquim e até
shows intimistas, que valorizam a voz e a capacidade interpretativa do artista.
A música sertaneja
de hoje, inclusive a universitária, não é um modismo. A música sertaneja,
desde as modas de viola e os sons caipiras, não só atravessou o tempo com
grandeza, mas tem se firmado como a verdadeira música popular brasileira.
O SERTANEJO DA CIDADE GRANDE
Com melodia simples e melancólica, a música
sertaneja antigamente era prestigiada mais pelas pessoas do interior. Porém,
com o surgimento de novas duplas e a modificação do sertanejo para sertanejo
universitário, a conquista por admiradores vem crescendo cada vez mais.
Atualmente, as músicas tratam de temas que se aproximam da realidade dos jovens
das grandes cidades, como festas, estudantes, mulheres e outros. As novas
duplas também costumam gravar sucessos do passado, mas com novas características
e adaptações para agradar o público atual.
Conhecido
como música caipira, o sertanejo surgiu em 1910, quando Cornélio Pires resolveu
trazer as músicas do interior para a cidade grande. Cornélio Pires era escritor
e jornalista e, em 1912, lançou o livro “Musa Caipira”, com versos da época. O
primeiro arquivo registrado de um conjunto que cantava música sertaneja também
tem início com Cornélio; o grupo se chamava “A Turma Caipira de Cornélio
Pires”, formada por violeiros muito conhecidos naquele tempo. Cornélio gravou
seu primeiro álbum em 1929, sendo este o primeiro material fonográfico no
estilo.
Na década
de 1930 surge a dupla Alvarenga e Ranchinho, uma das mais importantes de todos
os tempos. Muitas foram surgindo depois, cantando temas como a tristeza da vida
no sertão do Brasil e outros similares. Em 1939, a dupla Raul Torres e Serrinha
introduziu o violão na música sertaneja e criou o primeiro programa de rádio
dedicado a esse estilo, transmitido pela Record, que se chamava “Três Batutas
do Sertão”. Com isso, o movimento que se estabelecia apenas no eixo São
Paulo-Minas Gerais se expandiu para outras regiões, como Rio Grande do Sul,
Goiás, Pernambuco e outros.
A explosão
da música sertaneja no país se deu na década de 1980, quando começou a comercialização
em larga escala. Os novos artistas traziam uma releitura de sucessos
internacionais e mesmo da Jovem Guarda. Surgem nessa época Chitãozinho e Xororó
(paranaenses radicados em São Paulo), Leandro e Leonardo (de Goiás) e Zezé di
Camargo e Luciano (de Goiás).
AS DUPLAS PARANAENSES
No Paraná, não podemos deixar de falar de Nhô
Belarmino (Salvador Graciano) e Nhá Gabriela (Júlia Alves Graciano). Com 15
anos de idade, em 1935, Nhô Belarmino se apresentava junto com a irmã, Nhá
Quitéria (Pascoalina) em festividades da região de Rio Branco do Sul, sua
cidade natal. A dupla se apresentou durante quatro anos. Com o casamento, Nhá
Quitéria parou de fazer shows. Depois ele começou a se apresentar com sua
esposa, a Nhá Gabriela. Uma das canções mais famosas que fizeram história por
aqui é “As mocinhas da cidade”.
Outra dupla conhecida pelo Paraná é Leonel Rocha e
Campos, que estão no cenário musical desde 1975. Leonel Rocha, além de cantor,
também é apresentador de rádio e televisão. Criou e apresentou o programa Nossa
Terra, Nossa Gente, apresentado durante 10 anos e exibido pelo SBT no Paraná.
Leonel Rocha explica o rumo que o sertanejo vem tomando e o por quê desta
evolução que agrada tanto os jovens. Segundo ele, a música sempre muda conforme
as gerações. Porém, Leonel percebe algum tipo de preconceito. “Até pouco tempo
atrás, os jovens não queriam admitir que gostavam de música sertaneja e
caipira. Como não houve jeito de esconder, eles rotularam o sertanejo como
‘universitário’. As novas duplas usam um linguajar mais jovem, com refrãozinho
mais agitado. Mas já está passando essa moda de sertanejo universitário e está
voltando para o nosso sertanejo raiz, onde tudo se originou”, comenta. Ele
também destaca o retorno da viola nas canções mais atuais, instrumento usado na
música raiz.
Leonel
começou a tocar aos nove anos e sempre gostou de música caipira. Ele conta um
pouco sobre o nascimento da paixão pela música: “Ficava na frente do espelho
cantando, querendo ser como os cantores famosos. Na época, existiam livrinhos
de moda de viola, com cantores como Tonico e Tinoco e Cascatinha e Inhana. Eu
adquiria esses livrinhos e ficava encantado. Eu era muito fã de Tonico e
Tinoco”, revela. Leonel tinha o sonho de cantar junto com os ídolos e acabou
fazendo shows ao lado da dupla.
Sobre as
mudanças na música sertaneja, ele acredita que o estilo “universitário”, que
está em voga hoje, não faria sucesso quando ele começou a tocar. “Tudo vem
mudando e evoluindo. Essa modernização que virou consumo chegou agora. A música
veio mais apelativa, para a juventude brincar e dançar”, finaliza.