quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

A GRANDE EVOLUÇÃO DA MÚSICA SERTANEJA


O som dos novos sertanejos, especialmente o sertanejo universitário, é um modismo ou veio pra ficar? O que de verdade mudou para que o sertanejo, independente de suas vertentes, se tornasse o boom da música popular brasileira?
E qual foi o grande motivo para os jovens de todos o Brasil aderir maciçamente o som dos astros sertanejos?
O fantástico universo da música sertaneja não é fantástico por acaso. Novas formas de cantar, de compor, de produção e de arranjos foram incorporadas e o resultado está ai. Grandes nomes sertanejos incorporaram aos arranjos de suas músicas muita percussão, guitarras distorcidas, um meio estilo do axé baiano, o suingue do forró do nordeste. A versatilidade da música sertaneja não tem limites.
O preconceito de antes deu vez para os jovens papo-cabeça invadirem este universo. O sertanejo não mudou, ele tão somente cresceu, ele tão somente evolui. Desde a forma de se vestir, de produzir espetáculos com muita pirotécnica, muitos efeitos especiais, ao grande estilo dos maiores eventos da música internacional. As inúmeras apresentações exclusivas em rodeios deram vez aos álbuns acústicos, antes exclusividade da MPB e do pop rock tupiniquim e até shows intimistas, que valorizam a voz e a capacidade interpretativa do artista.
A música sertaneja de hoje, inclusive a universitária, não é um modismo. A música sertaneja, desde as modas de viola e os sons caipiras, não só atravessou o tempo com grandeza, mas tem se firmado como a verdadeira música popular brasileira.

O SERTANEJO DA CIDADE GRANDE
Com melodia simples e melancólica, a música sertaneja antigamente era prestigiada mais pelas pessoas do interior. Porém, com o surgimento de novas duplas e a modificação do sertanejo para sertanejo universitário, a conquista por admiradores vem crescendo cada vez mais. Atualmente, as músicas tratam de temas que se aproximam da realidade dos jovens das grandes cidades, como festas, estudantes, mulheres e outros. As novas duplas também costumam gravar sucessos do passado, mas com novas características e adaptações para agradar o público atual.
Conhecido como música caipira, o sertanejo surgiu em 1910, quando Cornélio Pires resolveu trazer as músicas do interior para a cidade grande. Cornélio Pires era escritor e jornalista e, em 1912, lançou o livro “Musa Caipira”, com versos da época. O primeiro arquivo registrado de um conjunto que cantava música sertaneja também tem início com Cornélio; o grupo se chamava “A Turma Caipira de Cornélio Pires”, formada por violeiros muito conhecidos naquele tempo. Cornélio gravou seu primeiro álbum em 1929, sendo este o primeiro material fonográfico no estilo.
Na década de 1930 surge a dupla Alvarenga e Ranchinho, uma das mais importantes de todos os tempos. Muitas foram surgindo depois, cantando temas como a tristeza da vida no sertão do Brasil e outros similares. Em 1939, a dupla Raul Torres e Serrinha introduziu o violão na música sertaneja e criou o primeiro programa de rádio dedicado a esse estilo, transmitido pela Record, que se chamava “Três Batutas do Sertão”. Com isso, o movimento que se estabelecia apenas no eixo São Paulo-Minas Gerais se expandiu para outras regiões, como Rio Grande do Sul, Goiás, Pernambuco e outros.
A explosão da música sertaneja no país se deu na década de 1980, quando começou a comercialização em larga escala. Os novos artistas traziam uma releitura de sucessos internacionais e mesmo da Jovem Guarda. Surgem nessa época Chitãozinho e Xororó (paranaenses radicados em São Paulo), Leandro e Leonardo (de Goiás) e Zezé di Camargo e Luciano (de Goiás).

AS DUPLAS PARANAENSES
No Paraná, não podemos deixar de falar de Nhô Belarmino (Salvador Graciano) e Nhá Gabriela (Júlia Alves Graciano). Com 15 anos de idade, em 1935, Nhô Belarmino se apresentava junto com a irmã, Nhá Quitéria (Pascoalina) em festividades da região de Rio Branco do Sul, sua cidade natal. A dupla se apresentou durante quatro anos. Com o casamento, Nhá Quitéria parou de fazer shows. Depois ele começou a se apresentar com sua esposa, a Nhá Gabriela. Uma das canções mais famosas que fizeram história por aqui é “As mocinhas da cidade”.
Outra dupla conhecida pelo Paraná é Leonel Rocha e Campos, que estão no cenário musical desde 1975. Leonel Rocha, além de cantor, também é apresentador de rádio e televisão. Criou e apresentou o programa Nossa Terra, Nossa Gente, apresentado durante 10 anos e exibido pelo SBT no Paraná. Leonel Rocha explica o rumo que o sertanejo vem tomando e o por quê desta evolução que agrada tanto os jovens. Segundo ele, a música sempre muda conforme as gerações. Porém, Leonel percebe algum tipo de preconceito. “Até pouco tempo atrás, os jovens não queriam admitir que gostavam de música sertaneja e caipira. Como não houve jeito de esconder, eles rotularam o sertanejo como ‘universitário’. As novas duplas usam um linguajar mais jovem, com refrãozinho mais agitado. Mas já está passando essa moda de sertanejo universitário e está voltando para o nosso sertanejo raiz, onde tudo se originou”, comenta. Ele também destaca o retorno da viola nas canções mais atuais, instrumento usado na música raiz.
Leonel começou a tocar aos nove anos e sempre gostou de música caipira. Ele conta um pouco sobre o nascimento da paixão pela música: “Ficava na frente do espelho cantando, querendo ser como os cantores famosos. Na época, existiam livrinhos de moda de viola, com cantores como Tonico e Tinoco e Cascatinha e Inhana. Eu adquiria esses livrinhos e ficava encantado. Eu era muito fã de Tonico e Tinoco”, revela. Leonel tinha o sonho de cantar junto com os ídolos e acabou fazendo shows ao lado da dupla.
Sobre as mudanças na música sertaneja, ele acredita que o estilo “universitário”, que está em voga hoje, não faria sucesso quando ele começou a tocar. “Tudo vem mudando e evoluindo. Essa modernização que virou consumo chegou agora. A música veio mais apelativa, para a juventude brincar e dançar”, finaliza.